O dia 20 de fevereiro destaca o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, uma iniciativa destinada à sensibilização da população e ao reforço de que o vício em entorpecentes e álcool são doenças crônicas, reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesta data, é crucial promover a reflexão sobre o impacto das drogas no dia a dia e ressaltar a importância de medidas preventivas, considerando especialmente os jovens. O uso de substâncias lícitas, como o álcool, muitas vezes serve como uma “porta de entrada” para o abuso de substâncias, influenciado pela presença de publicidades que associam essas práticas a uma suposta imagem de sofisticação, ousadia e/ou liberdade.
Dessa forma, destaca-se a urgência de realizar estudos e implementar intervenções educativas eficazes, focadas na prevenção e promoção da saúde. Essas abordagens devem ser adaptadas às necessidades específicas dos jovens, considerando os diversos contextos psicossociais, econômicos e culturais que impactam a adoção de comportamentos disfuncionais. Tais medidas são essenciais para evitar consequências graves que possam comprometer o desenvolvimento futuro da população.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, conduzida pelo IBGE, revelou que cerca de 63,3% dos estudantes entre 13 e 17 anos, de escolas públicas e privadas, já experimentaram álcool. Dentre eles, mais de um terço (34,6%) consumiu pelo menos uma dose antes dos 14 anos, sendo mais prevalente entre as meninas (36,8%) em comparação com os meninos (32,3%). A pesquisa abrangeu todas as regiões do Brasil e abordou temas como violência, saúde mental e uso de drogas.
Dos que experimentaram álcool, 47% relataram episódios de embriaguez, sendo mais comum em escolas públicas (47,6%) do que em privadas (43,4%). Cerca de 15,7% enfrentam problemas decorrentes do consumo, como conflitos familiares, perda de aulas ou envolvimento em brigas. A pesquisa também revelou que aproximadamente 28,1% dos estudantes consumiram álcool nos últimos 30 dias, variando de 22,1% entre os alunos de 13 a 15 anos para 38,9% entre os de 16 a 17 anos.
A idade parece influenciar o consumo recente, sugerindo que à medida que os adolescentes envelhecem, têm mais oportunidades para experimentar álcool. Além disso, 58,9% dos estudantes indicaram que os pais consumiam bebidas alcoólicas, sendo as regiões Sul (62,4%), Centro-Oeste (61,9%) e Sudeste (61,5%) as mais destacadas nesse aspecto.
Drogas X Idosos
O desenvolvimento da dependência química pode estar relacionado a fatores genéticos, tanto em homens quanto em mulheres. No contexto da população idosa, destaca-se o papel preponderante do fator psicológico.
Durante o processo de envelhecimento, os idosos enfrentam uma série de desafios, como a perda de entes queridos, a diminuição do poder econômico após a aposentadoria, o isolamento social e a falta de contato familiar, entre outros.
Esses desafios exercem um impacto significativo no aspecto psicológico, podendo levar os idosos a buscar uma forma de escapar da realidade por meio do consumo de substâncias químicas. Geralmente, esse padrão começa com uma dose e pode progredir para um consumo descontrolado ao longo do tempo.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi constatado que 1 em cada 10 brasileiros com mais de 60 anos está envolvido em um padrão de consumo abusivo de álcool.
Danos comuns
O uso de drogas e álcool pode ter uma variedade de efeitos prejudiciais para a saúde física e mental. Sendo alguns deles:
Drogas Ilícitas:
- Danos físicos: muitas drogas têm efeitos tóxicos no corpo, podendo causar danos ao coração, pulmões, fígado, rins e outros órgãos.
- Dependência: o uso prolongado pode levar à dependência, resultando na incapacidade em parar de usar a substância, mesmo causando problemas significativos.
- Problemas mentais: algumas drogas estão associadas a distúrbios psiquiátricos, como ansiedade, depressão e psicose.
- Prejuízos sociais e ocupacionais: o uso de drogas pode levar a problemas no trabalho, na escola e nos relacionamentos.
- Riscos comportamentais: comportamentos de risco, como dirigir sob a influência, envolvimento em atividades criminosas e práticas sexuais de risco, são mais comuns entre usuários de drogas.
Álcool:
- Danos ao fígado: o álcool é processado pelo fígado e o consumo excessivo pode levar à condições como cirrose hepática.
- Problemas cardíacos: o abuso crônico de álcool está associado a hipertensão arterial, arritmias cardíacas e cardiomiopatia.
- Problemas neurológicos: o álcool pode causar danos ao sistema nervoso central, resultando em problemas como perda de memória e comprometimento cognitivo.
- Dependência: o alcoolismo pode levar à dependência, com sintomas de abstinência quando a pessoa tenta parar de beber.
- Prejuízos sociais: o álcool está associado a problemas sociais, como violência doméstica, acidentes de trânsito e dificuldades no trabalho.
Outros danos causados pelo uso de drogas:
- Traumas e adversidades na infância, como abuso e negligência: é um fator significativo que aumenta a propensão de adolescentes ao consumo de substâncias ilícitas. Esse histórico pode levar a uma tendência de alimentar traumas, resultando em comportamentos revoltados e isolamento social.
- Distúrbios mentais: tanto pessoas em condições sociais vulneráveis quanto aqueles em classes mais privilegiadas podem buscar alívio para o sofrimento por meio do abuso de entorpecentes. A associação entre drogas e doenças mentais cria um ciclo vicioso, onde a doença é vista como causa e consequência do uso de drogas.
- Pobreza: amplifica os riscos associados ao consumo de drogas, principalmente em regiões menos favorecidas, onde questões estruturais, como fome, desemprego e falta de suporte familiar, agravam o desequilíbrio emocional, contribuindo para a adesão ao vício, violência e agressividade.
- Convívio com colegas usuários: é também o que influencia o consumo, tornando jovens e adultos que vivem próximos a locais de acesso a entorpecentes mais vulneráveis ao vício.
- Filhos de usuários de drogas: crianças expostas ao uso de substâncias ilícitas enfrentam desafios significativos, incluindo elevada tensão emocional e sintomas relacionados. Muitas delas iniciam o uso precoce de drogas, sofrendo com comprometimento cognitivo, problemas de desenvolvimento físico e maior suscetibilidade a doenças respiratórias e reações alérgicas. A negligência parental nesses ambientes resulta em problemas persistentes, manifestando-se na infância com irritabilidade, agressividade e déficit de atenção, seguidos por desvios de comportamento e dificuldades de aprendizado na adolescência. Na vida adulta, a instabilidade emocional está associada a condições como depressão, síndrome do pânico e esquizofrenia.
Emergências Psiquiátricas Relacionadas ao Uso de Drogas:
Algumas situações emergenciais exigem intervenções profissionais imediatas para evitar riscos à vida dos usuários de drogas. As mais comuns incluem overdose, psicose, crise de abstinência e tentativa de suicídio.
- Overdose: consequência grave do uso de drogas, podendo resultar em danos cerebrais irreversíveis ou morte. Requer socorro urgente como uma emergência psiquiátrica.
- Psicose: transtorno psíquico associado ao uso intenso de maconha, desregulando funções cerebrais e causando alucinações. Exige socorro emergencial e avaliação médica detalhada.
- Crise de Abstinência: decorre da interrupção do consumo de substâncias tóxicas, causando um estado de alteração mental difícil de controlar. Faz parte do processo de desintoxicação, necessitando de ajuda profissional e suporte dos amigos e familiares.
- Tentativa de Suicídio: fenômeno multifatorial, sendo o abuso de drogas um dos fatores que contribuem para ideações suicidas. Números alarmantes globalmente, com o Brasil em 8º lugar em mortes por suicídio. Estratégias de prevenção e assistência aos grupos de risco podem mitigar o impacto desse grave problema de saúde pública.
A importância de procurar ajuda
As drogas causam inúmeros danos à saúde, sendo os adolescentes e jovens os mais afetados, embora os prejuízos possam ser irreversíveis em qualquer idade. O maior perigo reside na falta de busca por ajuda, dada a complexidade do tema. Os efeitos variam de acordo com o organismo, tornando os danos imprevisíveis.
O uso de drogas ameaça a integridade do usuário e de seu círculo social, além de contribuir para a ideação suicida, visto que é um sintoma frequente entre dependentes químicos. A OMS destaca que a cada 40 segundos, alguém se suicida no mundo, muitas vezes sem permitir a intervenção da família ou amigos.
A influência das drogas na decisão de atentar contra a própria vida destaca a necessidade de ajuda profissional. Uma abordagem amigável pode sensibilizar o dependente sobre os riscos. Encaminhá-lo para tratamento especializado é crucial para superar o vício, prevenir o suicídio e reabilitar a saúde.
A dependência química tem cura?
Por ser crônica e progressiva, a dependência química não tem cura, porém é passível de tratamento. Atualmente não existe uma única alternativa de tratamento, podendo variar de paciente para paciente. O tratamento permite que o paciente dependente se reintegre ao convívio familiar e à sociedade. Além disso, os familiares desempenham um papel crucial no processo de reabilitação do paciente, contanto que não sejam coniventes com suas práticas. É fundamental tratar e orientar também as pessoas próximas ao paciente, evitando que elas próprias adoeçam.
Tratamento
A busca por soluções eficazes para lidar com o uso de drogas e alcoolismo em nível global demanda uma constante atualização no campo especializado. Diversas abordagens científicas visam fornecer orientações e estratégias políticas abrangentes para tratamento, reabilitação e prevenção do consumo, com foco também em questões de segurança.
Os principais tipos de tratamento são:
- Desintoxicação: a desintoxicação é um passo crucial na reversão das alterações metabólicas causadas pela toxicidade, impactando não apenas a estabilidade emocional, mas também estabelecendo a base para uma recuperação eficaz. Com duração geralmente entre 20 a 45 dias, a desintoxicação aguda visa reverter danos fisiológicos e reduzir sintomas de abstinência. Posteriormente, o tratamento concentra-se nas questões emocionais, visando abordar as razões subjacentes que levam o paciente a continuar usando substâncias, apesar das consequências negativas.
- Psicoterapia: a psicoterapia envolve a combinação de terapias de suporte psicológico e medicamentos, adaptadas às necessidades identificadas pelo profissional. Essa abordagem é mais eficaz quando conduzida em instituições especializadas com equipes multidisciplinares, incluindo médicos, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Além do aspecto farmacológico, o aconselhamento desempenha um papel crucial na prevenção de comportamentos prejudiciais à saúde.
- Medicamentos: a seleção cuidadosa e monitoramento de medicamentos são cruciais para evitar abusos e preservar a saúde do dependente químico. A reposição de componentes retirados durante a desintoxicação é muitas vezes necessária para prevenir a síndrome de abstinência de substâncias intoxicantes. Analgésicos podem ser prescritos para aliviar dores durante a desintoxicação, enquanto o suporte psicológico ajuda no controle de crises de ansiedade, que podem resultar em irritabilidade e mau humor.
- Internação: as instituições especializadas em recuperação de dependentes químicos expandiram suas abordagens terapêuticas para oferecer suporte àqueles que lutam contra o vício. A internação em hospitais especializados é crucial, proporcionando todo o suporte necessário para superar o vício e afastar o paciente de ambientes e pessoas associadas ao uso de drogas. Em situações como a quarentena, a internação pode ser uma solução viável para ajudar aqueles que precisam se libertar das drogas.
No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento é oferecido por meio de diferentes instâncias, incluindo Unidades de Atenção Básica, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) e atenção hospitalar especializada. Os CAPS atendem pessoas com sofrimento psíquico, abrangendo necessidades relacionadas ao uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas.
Seguindo as diretrizes da Portaria n.o 336/GM/MS do Ministério da Saúde, os CAPS são classificados em diferentes modalidades (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSad e CAPSi), variando em porte/complexidade e abrangência populacional. As equipes multiprofissionais, compreendendo profissionais como médicos psiquiatras, clínicos gerais e psicólogos, oferecem atendimento personalizado, envolvendo terapias multidisciplinares, prescrição de medicamentos e, quando necessário, internação.
Adicionalmente, grupos de apoio como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos complementam as opções terapêuticas disponíveis.
Em resumo, considerando todas as informações mencionadas anteriormente, torna-se evidente a importância em ter um dia dedicado ao combate às drogas e ao álcool, não é mesmo?! Ao contrário de muitas datas festivas e alegres, o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo tem a finalidade de educar, conscientizar e alertar a população.
A conscientização é fundamental para que todos compreendam que o vício em álcool e drogas constitui um problema de saúde pública, uma vez que as consequências dessas doenças afetam não apenas o indivíduo viciado, mas toda a sociedade.