Desvendando a Doença de Chagas: Causas, Sintomas e Tratamentos

A tripanossomíase americana, mais conhecida como doença de Chagas, é uma condição parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Foi identificada pelo médico brasileiro Carlos Chagas em 1909, o que originou a nomenclatura da doença.

Essa enfermidade afeta principalmente comunidades negligenciadas e é considerada uma das doenças mais impactantes globalmente. Estima-se que cerca de 6 milhões de pessoas estejam infectadas, com 30 mil novos casos surgindo a cada ano. Além disso, são registradas aproximadamente 14.000 mortes anuais relacionadas à doença, com 8.000 recém-nascidos infectados durante a gestação. É prevalente em países subdesenvolvidos, sendo endêmica de 21 países das Américas.

História e controle da doença no Brasil 

O controle da transmissão vetorial da doença de Chagas no Brasil foi formalizado em 1975, após décadas de conhecimento sobre a eficácia dos inseticidas na profilaxia da doença. Antes disso, apenas São Paulo mantinha ações regulares de controle, enquanto Minas Gerais realizava investigações pioneiras. A partir de 1975, foi delimitada a área de risco de transmissão, revelando que 36% do território nacional e 2.493 municípios estavam em risco. A prevalência da infecção chagásica na população rural era de 4,2%, com picos em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia.

Os recursos iniciais para o controle da doença de Chagas vieram do programa de malária, o que limitou o planejamento estritamente epidemiológico. Em 1979, um grupo de pesquisadores destacou a urgência de intervenção na doença, dada sua gravidade e custo social elevado. A transmissão da doença ocorria predominantemente em áreas rurais, mas a urbanização estava aumentando o problema. A doença afetava milhões de brasileiros, com consequências sérias, como comprometimento cardíaco fatal em muitos casos.

Apesar do conhecimento da eficácia dos inseticidas desde 1949, a transmissão continuava devido à falta de continuidade nas campanhas de controle, principalmente por questões administrativas e orçamentárias. Em 1983, recursos foram alocados para o programa, interrompendo a cadeia de transmissão através da desinsetização domiciliar em áreas endêmicas. A decisão foi influenciada pela consistência da equipe técnica e pelo respaldo da comunidade científica brasileira, que apresentou dados sobre o custo médico-social da endemia e ofereceu suporte tecnológico para ampliar o programa. O sucesso político e epidemiológico das ações de controle dependeria da continuidade dessas iniciativas.

Situação atual

Nos anos seguintes a 1986, mesmo que com perturbações nas atividades de controle por conta das epidemias de dengue e da perda de pessoal, os indicadores entomológicos sugerem que o Triatoma Infestans, principal vetor da doença de Chagas no Brasil, foi virtualmente eliminado dos domicílios, com focos remanescentes apenas em algumas áreas específicas, como no nordeste de Goiás, sul de Tocantins, na região do Além São Francisco (Bahia), norte do Rio Grande do Sul e sudeste do Piauí. O número de municípios com presença de Triatoma infestans caiu drasticamente de 711 em 1983 para apenas 102 em 1998. A participação relativa desse vetor no total de capturas diminuiu significativamente, assim como as taxas de infecção natural.

Embora outras espécies, como Triatoma Brasiliensis, Triatoma Pseudomaculata e Triatoma Sordida, ainda estejam presentes, os esforços de controle têm mantido os níveis de infestação e colonização intradomiciliar abaixo do limiar de transmissão. No entanto, é necessária vigilância contínua e intervenção imediata quando colônias desses vetores são identificadas em habitações. Os dados demonstram um impacto positivo das medidas de controle na prevalência da doença, na redução de casos e na mortalidade por doença de Chagas no país.

Os inquéritos sorológicos em crianças nascidas após o início do programa mostraram uma baixa proporção de soro-reagentes, e a prevalência entre doadores de sangue na rede pública também diminuiu significativamente em comparação com os anos 70. Além disso, a causa de mortalidade específica para doença de Chagas diminuiu ao longo dos anos, e o número de internações relacionadas à doença também está em declínio, indicando uma melhoria na situação epidemiológica e no controle da doença de Chagas no Brasil.

Reservatórios e Hospedeiros:

O ciclo de vida do Trypanosoma cruzi envolve hospedeiros vertebrados (mamíferos) e invertebrados (triatomíneos). Esse protozoário apresenta duas formas evolutivas principais, tanto no humano quanto no vetor (conhecido como bicho-barbeiro): amastigota e tripomastigota.

Os reservatórios são os animais infectados, nos quais o T. cruzi pode ser encontrado na circulação sanguínea e na musculatura dos órgãos. Esses animais podem ser encontrados em ambientes silvestres (como áreas de mata), intradomiciliares (dentro das residências) e peridomiciliares (nas áreas próximas às residências). Exemplos incluem gambás, tatus, cães, gatos, macacos, preguiças, ratos, entre outros. Curiosamente, répteis e aves não são considerados reservatórios, uma vez que o T. cruzi não sobrevive nesses animais.

Transmissão: 

Existem várias formas de transmissão da Doença de Chagas,  incluindo: 

  • Transmissão vetorial: ocorre quando o bicho-barbeiro pica e defeca formas infectantes no ser humano, que podem entrar em contato com a lesão provocada pela picada ou com as mucosas.
  • Transmissão por via oral: acontece quando há ingestão de alimentos contaminados por triatomíneos ou suas fezes, e também pela ingestão de carne crua ou mal cozida de caça. Este tipo de transmissão está associado a surtos de Doença de Chagas Aguda (DCA).
  • Transmissão vertical: ocorre através da via placentária, durante a gestação ou no parto, podendo acontecer tanto na fase aguda quanto na crônica da doença.
  • Transmissão transfusional: ocorre durante a transfusão de sangue e é uma importante via de propagação da doença nos centros urbanos. No Brasil, há um impacto significativo no controle dessa transmissão devido aos cuidados no controle dos serviços de hemoterapia, resultando em uma maior qualidade do sangue para transfusão.
  • Transmissão por acidentes laboratoriais: pode ocorrer devido ao contato com culturas de T. cruzi, exposição às fezes de triatomíneos contaminados ou ao sangue (de humanos e animais) contendo formas infectantes do parasita.

Período de Transmissibilidade

A maioria das pessoas infectadas com T. cruzi mantém o parasita nos tecidos, órgãos e sangue ao longo de toda a vida.

Período de Incubação

O tempo de incubação, ou seja, o período entre a infecção e o início dos sintomas, varia de acordo com o modo de transmissão:

  • Transmissão vetorial: 4 a 15 dias;
  • Transmissão oral: 3 a 22 dias;
  • Transmissão vertical: pode ocorrer em qualquer momento durante a gestação ou durante o parto;
  • Transmissão transfusional: em média, de 30 a 40 dias;
  • Transmissão acidental: aproximadamente até 20 dias.

Aspectos Clínicos

A doença se divide em duas fases distintas: aguda e crônica.

Após a picada (entre 4 a 10 dias), a pessoa pode apresentar sintomas gerais, como febre, mal-estar e falta de apetite. Além disso, pode ocorrer uma leve inflamação no local da picada (chagoma), aumento dos gânglios (ínguas), aumento do baço e do fígado, manifestando-se clinicamente como endurecimento regional no abdômen e dor abdominal. Algumas pessoas podem desenvolver formas graves de afecção cardíaca.

Devido à preferência de alguns barbeiros pela região dos olhos, pode ocorrer uma lesão inflamatória conhecida como Sinal de Romaña, embora não seja comum sua identificação. Durante a fase aguda, a doença pode ser tratada. No entanto, a dificuldade reside no fato de que muitas vezes passa despercebida. Após o término da fase aguda, caso não haja cura, os pacientes podem progredir para a forma crônica da doença, que pode resultar em complicações cardíacas (como insuficiência cardíaca) e/ou digestivas, como megacólon e megaesôfago.

A fase crônica da doença é caracterizada por três estágios:

  • Forma Indeterminada: mesmo estando infectada, a pessoa permanece assintomática ao longo de toda a vida.
  • Forma Cardíaca: apresenta comprometimento do músculo cardíaco e é a principal causa de mortalidade associada à doença.
  • Forma Digestiva: afeta o cólon e o esôfago, resultando em aumento das estruturas e perturbação grave da motilidade, manifestando-se como megacólon e megaesôfago.

Além desses estágios, há também uma forma associada que combina características da forma cardíaca e da forma digestiva.

Diagnóstico

Diagnosticar a doença de Chagas o mais cedo possível aumenta as chances de sucesso no tratamento. Recomenda-se realizar o diagnóstico em pessoas assintomáticas nos seguintes casos:

  • Parentes ou indivíduos que convivem com pessoas diagnosticadas com Chagas;
  • Residentes de áreas rurais onde há relato da presença de barbeiros;
  • Pessoas com histórico de transfusão sanguínea anterior a 1992;
  • Indivíduos que tenham consumido alimentos contaminados por T. cruzi durante um surto recente e/ou que tenham tido contato direto com barbeiros ou suas fezes nos últimos 4 meses antes da investigação.

Tratamento

A medicação é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pelas sociedades médicas.

Por fim, a Doença de Chagas continua sendo um desafio de saúde pública, especialmente em comunidades negligenciadas. No entanto, os avanços feitos ao longo dos anos foram significativos no controle e tratamento da doença. O Brasil, em particular, implementou medidas eficazes de controle vetorial, reduzindo drasticamente a incidência da transmissão da doença por vetores.

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