O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição neurológica caracterizada por um desenvolvimento fora do comum, afetando a maneira como a pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor. O termo “espectro” é usado porque o autismo manifesta-se de maneiras variadas e em diferentes graus de intensidade em cada pessoa.
As características do espectro autista podem incluir padrões repetitivos de comportamento, dificuldades na comunicação e interação social, além de interesses restritos e repetitivos. No entanto, é importante reconhecer que cada pessoa é única, e as experiências e desafios que enfrentam podem variar amplamente.
O diagnóstico do autismo é geralmente feito por profissionais de saúde com base na observação do comportamento da criança e em informações fornecidas pela família. O Transtorno do Espectro Autista é categorizado em três níveis de gravidade: nível 1 (requer apoio), nível 2 (requer apoio substancial) e nível 3 (requer apoio substancial significativo). Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais cedo a criança pode receber intervenções e suporte adequados, o que pode melhorar significativamente suas perspectivas de longo prazo.
É fundamental entender que o autismo não é uma condição que precisa ser “curada” ou “corrigida”. Em vez disso, o foco deve estar em oferecer apoio e recursos que ajudem as pessoas com espectro autista a prosperar e a alcançar seu pleno potencial. Isso pode incluir terapias comportamentais, programas educacionais individualizados, apoio à comunicação e habilidades sociais, entre outros recursos e serviços.
É importante enfatizar que a estimulação precoce deve ser iniciada sempre que houver suspeita de TEA ou desenvolvimento atípico, mesmo antes da confirmação do diagnóstico.
O diagnóstico do autismo
O autismo foi inicialmente descrito como uma forma de psicose na infância, antes de ser reconhecido como uma entidade diagnóstica distinta nos manuais médicos. A evolução dos manuais diagnósticos, desde a Reação Esquizofrênica do Tipo Infantil até os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e, finalmente, os Transtornos do Espectro Autista, reflete a compreensão em constante mudança desse transtorno.
A transição para os TEA ocorreu devido à compreensão de que o autismo é melhor representado como um espectro único, em vez de categorias distintas. Os TEA enfatizam a importância da comunicação social e dos comportamentos, reconhecendo que as dificuldades sociais são centrais para o diagnóstico.
O diagnóstico de TEA requer a observação do comportamento da criança em vários contextos, para avaliar a consistência dos sinais. Além disso, os sinais de autismo podem se manifestar ao longo da infância, e não apenas nos primeiros anos de vida, o que desafia a noção anterior de um limite de idade para o diagnóstico.
Transtornos como o de Asperger e o de Rett foram reavaliados em relação aos TEA. O Transtorno de Asperger agora é considerado dentro do espectro autista, enquanto o Transtorno de Rett foi removido devido a identificação de uma causa genética específica e características distintas.
Essas mudanças refletem uma compreensão em constante evolução do autismo e a necessidade de abordagens diagnósticas e terapêuticas mais precisas e abrangentes.
Os traços do autismo
O DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) descreve as características fundamentais do autismo em duas dimensões principais: comunicação social e comportamentos. Na comunicação social, são destacados comportamentos atípicos e deficiências na qualidade e fluência da interação social, incluindo dificuldades em compartilhar interesses e emoções. Alterações no contato visual e na linguagem corporal também são observadas, afetando o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos, especialmente no contexto escolar.
Os comportamentos restritos e repetitivos são outro aspecto central do autismo, incluindo padrões estereotipados de movimento, fala e uso de objetos, além de interesses altamente restritos e rígidos. A inflexibilidade cognitiva e a aderência a rotinas são comuns, muitas vezes associadas à ansiedade social.
O DSM-5 também destaca as alterações sensoriais como um critério diagnóstico importante, incluindo hiper ou hiper-reatividade a estímulos ambientais em diversas modalidades sensoriais, como táteis, visuais e auditivas.
O espectro do autismo é caracterizado pela grande variabilidade na apresentação dos sinais, com diferentes crianças mostrando diferentes combinações de dificuldades na comunicação e comportamentos. O DSM-5 inclui uma tabela com três níveis de severidade para ajudar os clínicos a avaliar o grau de apoio necessário em cada área.
Além disso, o DSM-5 enfatiza a importância de descritores complementares ao diagnóstico, como habilidade cognitiva, habilidades de linguagem, comorbidades psiquiátricas e associações com condições médicas ou genéticas conhecidas. Esses descritores ajudam a fornecer uma compreensão mais completa das necessidades individuais das pessoas com autismo.
Intervenção
O processo de intervenção para pessoas com TEA envolve uma equipe interdisciplinar coordenada e conectada. Intervenções conjuntas, como psicoeducação, suporte aos pais, terapia comportamental, fonoaudiologia, entre outros, são fundamentais para melhorar a qualidade de vida da criança. Os pais desempenham um papel crucial e devem receber apoio profissional e pedagógico. A criação de um plano individual de tratamento e educação, considerando as necessidades específicas da criança, é essencial.
Diversos modelos de intervenção, como TEACCH método que se concentra na organização do ambiente, no uso de rotinas estruturadas e na adaptação das tarefas para atender às necessidades individuais de cada pessoa. O método enfatiza o uso de recursos visuais, como calendários, listas de tarefas e sistemas de organização, para promover a independência, a comunicação e o desenvolvimento de habilidades funcionais.
Já o método ABA envolve a análise detalhada do comportamento, o estabelecimento de objetivos específicos e o uso de técnicas de reforço positivo para incentivar comportamentos desejados. Essa abordagem é altamente individualizada e intensiva, adaptando-se às necessidades únicas de cada pessoa com TEA. Esses são métodos utilizados para promover a independência e o desenvolvimento.
Além disso, intervenções como equoterapia e musicoterapia têm sido eficazes. O fonoaudiólogo trabalha na estimulação da comunicação, enquanto o terapeuta ocupacional ensina habilidades cotidianas para promover a independência. Tratamentos psicológicos, como a terapia cognitivo-comportamental e o Programa Son-Rise, são importantes. A prática de esportes pode contribuir para o desenvolvimento motor. No entanto, tratamentos alternativos, como a dieta sem glúten, carecem de comprovação científica até o momento.
Programa Son-Rise
O Programa Son-Rise foi criado na década de 1970 por Barry Neil Kaufman e Samahria Lyte Kaufman para ajudar seu filho, Raun, que foi diagnosticado com autismo grave. Em vez de seguir o conselho de colocá-lo em uma instituição, os Kaufman desenvolveram um programa inovador baseado em casa e centrado na criança. Este programa único, diferente de todos os métodos de tratamento existentes na época, resultou na recuperação completa do autismo de Raun.
Ele passou de uma criança muda e retraída para um jovem altamente verbal e socialmente interativo, com um aumento significativo em seu QI. Raun se formou em uma universidade de prestígio, trabalhou como diretor em um centro educacional e eventualmente se envolveu no Programa Son-Rise e no centro de ensino de seus pais. Este caso destaca a eficácia do Programa Son-Rise e sua abordagem centrada na criança para o tratamento do autismo.
O Programa enfatiza a conexão emocional e o envolvimento direto dos cuidadores, geralmente os pais, na interação com a criança autista. O programa se baseia na aceitação incondicional da criança e no estabelecimento de uma atmosfera de aceitação, respeito e amor. Os principais princípios incluem seguir os interesses da criança, criar um ambiente livre de pressão e julgamento, e utilizar técnicas específicas para desenvolver a comunicação e interação social. O objetivo é promover o desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança com TEA.
Autismo na Infância X Autismo na Vida Adulta
Pesquisas sobre o prognóstico de pessoas com autismo revelam um aumento de 2,8% no risco de mortalidade em comparação com pessoas sem autismo. Este encurtamento da vida não está diretamente ligado aos sinais de autismo, mas sim a condições associadas, como sedentarismo e uso de medicamentos para problemas comportamentais, sono ou ansiedade.
Estudos mais extensos indicam que adultos com autismo enfrentam dificuldades na independência, educação, emprego e relacionamentos sociais. Mais da metade dos jovens com autismo nos Estados Unidos abandonam a escola e não conseguem emprego remunerado, necessitando de apoio na vida adulta. No entanto, oportunidades sociais, como participação em grupos e atividades comunitárias, podem melhorar o funcionamento cognitivo e adaptativo.
A atenção ao autismo tende a se concentrar na infância, com poucos serviços disponíveis para adultos. Dados do Departamento de Educação dos EUA mostram que adultos com autismo têm menor participação social do que aqueles com outras deficiências. Isso destaca a necessidade urgente de desenvolver políticas públicas para adultos com autismo, incluindo estratégias para facilitar o emprego e residências que ofereçam suporte adequado
O número de estudos sobre TEA tem aumentado significativamente. Essas pesquisas têm como objetivo principal conscientizar sobre a importância de reconhecer os sinais de alerta precocemente e os diversos tratamentos disponíveis. É essencial que os pais, ao selecionarem um profissional e uma abordagem terapêutica, investiguem o histórico do profissional e compreendam profundamente as abordagens oferecidas, para determinar qual é a mais adequada para seu filho. Isso também envolve avaliar os terapeutas e pedagogos que estão envolvidos no cuidado da criança.
Por fim, entender o autismo é compreender a complexidade de um espectro único, onde cada pessoa possui suas próprias características e desafios. A intervenção precoce e personalizada é fundamental para o desenvolvimento e bem-estar das pessoas no espectro autista. Além disso, é crucial que haja um foco contínuo em políticas públicas e recursos que apoiem tanto crianças quanto adultos, promovendo uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.